O ato de defenestar — literalmente, “jogar alguém pela janela” — passou para a História com a Segunda Defenestração de Praga, ocorrida em 1618: a nobreza protestante da Boêmia, indignada com a perseguição religiosa do poder católico da Áustria, demonstrou sua revolta em grande estilo checoslovaco, atirando, por uma das janelas do Castelo Hrdcany, em Praga, os dois vice-regentes do monarca austríaco e seu secretário. Embora os defenestrados pouco tenham sofrido além da humilhação (caíram no antigo fosso, cheio de palha e detritos orgânicos), o gesto foi suficientemente eloqüente para incendiar a revolta contra os Habsburgos, desencadeando a que seria conhecida como Guerra dos Trinta Anos. Note-se que esta não era uma forma desconhecida de protesto político lá por aquelas bandas: duzentos anos antes, em 1419, tinha ocorrido a Primeira Defenestração, bem mais letal, quando seguidores de Jan Hus mataram sete membros do Concelho (é com C, mesmo; se eu quisesse escrever conselho, teria feito), jogando-os, através de uma janela, sobre as lanças que os esperavam lá embaixo.
O termo, que vem de fenestra, vocábulo latino para janela (compare com finestra, em Italiano, e fenêtre, em Francês) vinha sendo usado exclusivamente para designar aqueles fatos ocorridos em Praga. No início deste século, contudo, assumiu um toque irônico (que não estava ausente, sejamos francos, nos incidentes originais) e passou a designar a dispensa ou demissão brusca do ocupante de um determinado posto ou cargo. Apesar de seu tom erudito, o vocábulo não teve dificuldade de abrir caminho na Grande Imprensa devido a seu caráter decididamente curioso e divertido. Ministros, assessores, diretores e até técnicos de nossa Seleção passaram a ser defenestrados (metaforicamente, é claro). No mundo da informática, a supremacia do sistema Windows (“janelas”, em Inglês) deu ensejo a outro uso, ainda mais irônico, do vocábulo: defenestrar poderia significar remover o sistema Windows do computador, trocando-o por outro sistema operacional, como o Linux.
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