Fiquei um pouco decepcionado quando me dei conta que o “D” de Dia-D era a abreviatura do vocábulo dia. Esta famosa expressão é a tradução do codinome D-Day, usada pelo exército britânico desde a 1ª Guerra, hoje incorporada à linguagem militar da maioria dos países. Serve para designar o dia exato em que uma determinada operação militar deverá ser iniciada. Apesar de pleonástica, a expressão foi incorporada à linguagem militar da maioria dos países por sua inegável utilidade: ela cria um ponto de referência no tempo, o que assegura o sigilo e permite que se troque a data real sem que seja necessário alterar toda a logística planejada (por exemplo, a data do Dia-D para a invasão da Normandia foi mudada de 5 para 6 de junho).
Do ponto de vista lingüístico, esta expressão permite que façamos referência clara a dias anteriores ou posteriores a essa data variável. Se estamos no D -12, faltam doze dias para o início da operação; a véspera do dia marcado pode ser referida como D -1, enquanto o dia seguinte pode ser referido como D +1. Por esse motivo há quem critique a formação repetitiva de Dia-Dia, sugerindo, em seu lugar, um Dia-Zero mais lógico.
Já houve centenas de dias-D, mas a expressão evoca em especial, para todos nós, o dia da invasão da França pelas forças aliadas, em 6 de junho de 1944. Em qualquer dia-D, a hora exata em que a operação vai ser desencadeada é chamada, coerentemente, de Hora-H (em Inglês, H-Hour). Assim, em H -2min faltam dois minutos, enquanto em H +11min já se passaram onze minutos. Até o início da 2ª Guerra, a hora exata era também chamada de Hora-Zero (em Inglês, Zero-Hour).
Para nossa sorte, dia e hora iniciam, no Português, pelas mesmas letras que day e hour no Inglês, o que deixa as expressões ainda reconhecíveis, embora se troquem de posição os elementos, obedecendo à diferente ordem sintática do Português e do Inglês. O Francês usa Heure-H, mas Jour-J. O Italiano, contudo, que não tem “H” inicial, ficou com uma incômoda ora-H. A linguagem usual já incorporou a expressão hora-h com o significado de “momento exato, decisivo”, inclusive com seus desdobramentos eróticos, como se vê nessas revistas de consultório de dentista: “O que você diz a seu parceiro na hora-h?”; “O medo do fracasso na hora-h pode levar à impotência”, etc.