Professor: na sua resposta sobre o uso correto do vocábulo alternativa encontra-se a construção “várias alternativas”. Estranhei, pois tenho que alternativa é possibilidade de escolha entre duas opções. Agradeceria seu esclarecimento.
Ilmar Mello C. — São Paulo
Meu caro Ilmar: o significado primitivo do vocábulo realmente era restrito a duas opções mutuamente exclusivas, praticamente um sinônimo do que os gregos denominavam de dilema, em que também se vê a noção de dualidade; o termo grego, contudo, implica sempre uma escolha difícil, o que nem sempre vai ocorrer com alternativa: “A alternativa é lutar ou morrer“. “A alternativa é água ou vinho“, e assim por diante.
No entanto, o léxico de uma língua cresce não só pela criação de vocábulos novos, mas também pela criação de novos significados para os vocábulos já existentes; isso é o que explica aquela sucessão de entradas num mesmo verbete de dicionário (1… 2… 3…). Logo esta palavra passou a designar também apenas uma das opções (“Eu vou lutar, porque não me agrada a alternativa” — no caso, “morrer”) ou ambas (“Entre essas alternativas, eu fico com a primeira”). Daí para englobar mais de duas opções foi um pequeno passo: “Eliminadas as outras alternativas, só nos restam duas: lutar ou morrer“.
No Português do Brasil, o sentido primitivo está praticamente esquecido, especialmente depois da década de 70, quando foram introduzidos os testes de escolha simples nos vestibulares e nas provas de concurso. Na TV, todas as questões desses programas da moda têm várias alternativas. Só o mundo letrado, erudito, conhece essa antiga conotação dual que tinha no Latim — mas não pode usá-la livremente, porque uma frase como “A alternativa é lutar ou morrer” deixaria atônita a maioria dos leitores; os mais abusados até ririam do confuso sábio, que deveria reservar este vocábulo para os seus iguais.
O interessante é que a mesma coisa ocorreu no Inglês (só não sei a partir de quando, nem por que razão). Os dicionários daquele idioma registram aquele significado primitivo, mais restrito, lado a lado com o mais moderno, que abrange mais de duas escolhas. Houve quem tentasse reagir contra isso, alegando a etimologia do vocábulo. No entanto, o próprio H. W. Fowler, o duríssimo mestre de etiqueta da língua inglesa, apesar de sua orientação claramente tradicional, fuminou no ato: “A idéia de que alternativa, por ser derivada do Latim alter (uma ou outra), não pode ser usada para designar a escolha entre mais de duas possibilidades é um FETICHE” [as maiúsculas são dele!]. Abraço. Prof. Moreno