Professor Moreno, gostaria saber se existe alguma regra formal que obrigue a pontuação a ficar “encostada” à palavra da esquerda. Um colega de trabalho costuma colocar um espaço entre a última palavra escrita (ou digitada) e o sinal de pontuação, seja vírgula, dois-pontos, ponto final, ponto de interrogação ou de exclamação. Argumentei que esse não era o costume, mas me desafiou a apresentar a norma que proíbe que isso seja feito. Pesquisei exaustivamente e consultei alguns professores, mas não achei o que procurava, pois a maioria das pessoas acha que é só um costume estético. Há algum fundamento gramatical?
José Francisco C. — Sorocaba (SP)
Prezado José, este é um daqueles casos em que o costume acaba se tornando lei. As vírgulas, os pontos, etc. realmente costumam ficar encostados na palavra anterior, não por força de alguma regra gramatical, mas sim por herança da forte tradição tipográfica que antecedeu o nosso mundo de textos digitais. Eu pensava que, com o tempo, este detalhe acabaria se tornando irrelevante, já que um processador de texto como o Word, ao justificar as linhas, às vezes produz um efeito visual em que o espaço entre as palavras, ou entre elas e os sinais de pontuação, parece consideravelmente aumentado
Acontece que eu não estava enxergando o óbvio, e foi necessário que um leitor de Porto Alegre, Alfredo Kauer, me chamasse a atenção para um princípio fundamental de digitação que, embora não seja uma regra gramatical, encerra definitivamente a questão: ao teclarmos um texto no computador, o processador de texto interpreta cada toque de espaço como o aviso de que uma palavra terminou e que vai começar outra; por isso, nunca devemos inserir um espaço antes do sinal (seja vírgula, ponto, ponto-e-vírgula, parênteses, aspas, etc.), mas sim depois, para que o sinal se torne, aos olhos do processador, parte integrante da palavra anterior. Como a mudança automática de linhas sempre se dá depois de uma palavra completa, a vírgula, estando “encostada”, não vai passar para a linha seguinte.
Aposto que os textos digitados pelo teu colega de trabalho apresentam, às vezes, algum sinal de pontuação isolado no início de certas linhas — o que, além de esquisito, torna muito penoso o trabalho do leitor, obrigando-o a voltar à linha que já tinha lido. Se essa observação é notícia antiga para os usuários mais experientes dos processadores de texto, muito poderá esclarecer os novatos, que às vezes ficam olhando intrigados para aquele sinal solitário no começo da linha, atribuindo-o a alguma daquelas entidades misteriosas que volta e meia se manifestam no nosso monitor, como a desanimadora tela azul ou aquela mensagem, tão antipática quanto apocalítica, que nos informa que acabamos de cometer um “erro fatal”. Abraço. Prof. Moreno