Caro Prof. Moreno, é com imensa satisfação que lhe dirijo esta pergunta: o uso do advérbio absolutamente deve ser restringido apenas a orações que expressem negação? Explico: enquanto lia seus textos — didaticamente maravilhosos —, deparei-me com esta frase: “O estranho, bizarro, absolutamente insano é dizer um clips!”. Bem, enquanto me preparava para um concurso, minha professora de Português me informou que o uso do advérbio absolutamente deveria se restringir, em suma, ao uso de orações que expressassem negação. Ela ainda usou como exemplo um apresentador de televisão, Jota Silvestre (acho que é assim que se escreve, pois não é do meu tempo), referindo-se a uma expressão usada pelo mesmo: “A resposta está absolutamente correta”. Segundo a professora, o uso de absolutamente nesse caso está incorreto, porque, sendo absolutamente igual a não, o apresentador estaria querendo dizer que a resposta estava errada, diferentemente do que ele pretendia na prática. Usando esse mesmo raciocínio, posso dizer que o senhor quis dizer não insano quando se referiu a um clips ?
Davi E. M. – Porto Alegre
Prezado Davi: Obrigado pelos elogios; continua meu leitor, que isso é elogio suficiente. Quanto aos “ensinamentos” da tua professora, talvez a tua memória esteja te pregando uma peça (ou foi mesmo a mestra que se equivocou). É verdade que nosso absolutamente, usado como resposta, é negativo, enquanto o absolutely do Inglês é positivo. À pergunta “Foi você que fez isso?”, se um brasileiro responder absolutamente, ele estará dizendo que não; se um inglês responder absolutely, ele estará dizendo que sim.
Fora desse contexto, no entanto, absolutamente, ao ser usado como advérbio de intensidade (principalmente junto a adjetivos), não traz nenhum sentido negativo. Desde o séc. XIV os bons escritores empregam esta construção. Em Eça de Queirós vamos encontrar absolutamente acompanhando os adjetivos profundo, belo, irresistível e necessário. Rui Barbosa fala do absolutamente falso, fortuito, legítimo e idêntico; Machado usa absolutamente impossível, desnecessário e popular — e teríamos literalmente centenas de exemplos para mostrar àquela professora. O “Absolutamente certo!” do J. Silvestre estava absolutamente (inteiramente) certo. Abraço. Professor Moreno