A leitora Marisa E. A., de Maceió, pergunta se a pupila do olho tem alguma relação com o título do famoso romance de Júlio Diniz, As Pupilas do Senhor Reitor; ela acha que tem, pois sua intuição lhe diz que uma semelhança tão grande não pode ser mera coincidência. Pois acertaste em cheio, Marisa: não são dois vocábulos homógrafos (com a mesma forma), mas um só vocábulo com dois significados distintos, e não tão afastados assim, como vamos ver.
A pupila é a parte escura no centro do olho que muda de tamanho de acordo com a quantidade de luz que incide sobre ela, mas também pode ser uma aluna, uma discípula ou uma protegida. Originariamente, o Latim tinha pupus (“menino”) e pupa (“menina”, “boneca”), mais os diminutivos pupillus e pupilla. Numa bela metáfora, pupilla passou a designar a parte central da íris porque nela o observador enxerga uma miniatura de sua própria imagem refletida, semelhante a uma bonequinha. Olha bem nos olhos de alguém, e vais entender o que estou descrevendo, Marisa.
Paralelamente a isso, o mesmo vocábulo, em ambos os gêneros — pupillus e pupilla —, passou a denominar a criança durante o seu período de formação e de educação, tornando-se pouco a pouco um sinônimo de aluno, discípulo: “O professor marcou para sempre a vida de seus pupilos“, “O Brasil ganhou a Copa graças a Filipão e seus pupilos“. Num sentido jurídico, mais restrito, significa também um menor que se encontra sob a supervisão legal de seu tutor. Relacionado ao mesmo significado, a Biologia utiliza o vocábulo pupa, introduzido no séc. XIX pelo famoso Lineu, naturalista sueco, para designar um estágio no desenvolvimento dos insetos, intermediário entre a forma larvar e forma adulta.
Para não deixar dúvidas de que ambas as denominações têm origem comum, costumamos popularmente chamar também a pupila de menina do olho, de onde o Português desenvolveu o belíssimo costume de chamar de menina dos olhos a pessoa ou coisa que tem um significado muito especial para alguém: “A Microsoft é a menina dos olhos de Bill Gates”; “Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos” (Provérbios 7:2)
O Houaiss e o Aurélio-XXI (mas não o Aurélio-em-vida, da 2ª edição) registram menina-do-olho e menina-dos-olhos, com hífen. No primeiro caso é razoável, já que se trata do nome popular dado à pupila. No segundo, no entanto, essa grafia é inaceitável, já que não temos aqui um substantivo composto, mas uma simples expressão idiomática. Isso fica evidente diante da possibilidade de inserir outros vocábulos entre os elementos que a compõem (o que seria impossível se se tratasse de vocábulo): a menina de meus olhos.