Ouvidos e orelhas
No mundo das palavras, certas distinções que o vocabulário científico faz questão de manter muitas vezes não valem um prego aqui embaixo, na planície em que vivemos — e vice-versa.
No mundo das palavras, certas distinções que o vocabulário científico faz questão de manter muitas vezes não valem um prego aqui embaixo, na planície em que vivemos — e vice-versa.
“Os estrangeirismos são os judeus da linguagem” — Theodor Adorno – Minima Moralia
Inspirados no quase esquecido projeto de Aldo Rebelo, o PCdoB-RS propôs, neste mês de abril, uma lei para regulamentar o uso dos “estrangeirismos” em nosso idioma. Até aí, nada de novo, considerando a linha retrógrada e autoritária que vem caracterizando este partido — mas não se entende como a Assembléia gaúcha, geralmente tão séria e ponderada, aprovou este despautério, colocando-se ao lado do que existe de pior no fascismo mundial, seja de direita ou de esquerda.
Por que fomos pedir emprestado ao japonês o vocábulo TSUNAMI? Nossa língua não tem palavra própria para designar um vagalhão desse tamanho?
Além de ter pelo de castor e bico de pato, o ornitorrinco põe ovos mas amamenta seus filhotes. Este estranho animal, que parece uma delirante colagem cubista ou, melhor ainda, um rascunho que a Natureza esqueceu de jogar na cesta de lixo, vive nadando alegremente nos rios da Oceania. E a LOGOMARCA com isso?
Ninguém pode ser tão cego a ponto de negar a existência de um vocábulo como LOGOMARCA, que alcança 2.500.000 de ocorrências no Google e está presente em todos os dicionários importantes do idioma. E seria adequado empregá-lo? O Doutor discute o problema.
Uma palavra, assim como o ouro, tem o valor que cada época lhe atribui. Nas línguas ocidentais, “aluno” nunca foi pejorativo, como querem os adeptos de uma curiosa seita pedagógica…
Em qualquer versão do “Drácula” sempre haverá um abnegado doutor, especialista em vampirologia, para explicar ao público e aos demais personagens que a melhor maneira de exterminar definitivamente um vampiro é cravar-lhe uma estaca de madeira no coração — exatamente o tipo de estaca que eu gostaria de usar quando vejo saírem do túmulo certas explicações para a origem da palavra ALUNO…
Veja como o vocábulo VERNISSAGEM, neto da palavra VERNIZ, entrou aqui como turista, mudou de gênero e acabou adquirindo a cidadania brasileira.
As aparências enganam: um “algebrista” não era uma espécie de matemático, mas um misto de barbeiro com cirurgião.