Muito antes do aparecimento da Astronomia, o céu era povoado de seres mitológicos, de animais fabulosos, de deuses que mandavam sinais para os pobres humanos aqui embaixo. Fosse um eclipse, um cometa, um meteoro ou mesmo um singelo arco-íris, tudo deveria ter um significado, e nossos antepassados — egípcios, sumérios, persas, gregos — estudavam respeitosamente todos os fenômenos que conseguiam avistar a olho nu. Os astros indicavam o rumo para o marinheiro e diziam ao lavrador a época certa de lançar a semente na terra; arquitetos erigiam monumentos gigantescos com base na posição das estrelas; sacerdotes e adivinhos examinavam cuidadosamente o céu noturno, em busca das respostas às suas indagações — tudo estava escrito nos astros. Para falar dos fenômenos e dos corpos celestes, ainda hoje usamos muitos vocábulos que lembram, na sua origem, as crenças dessa época anterior à ciência da Astronomia, em que os céus ainda estavam cheios de mistério.
horizonte
Os astrônomos do passado acreditavam que a Terra fosse o centro do Universo e imaginavam o céu como uma gigantesca esfera ao nosso redor — a esfera celestial— em cuja superfície ficavam os outros planetas e as estrelas. Como só podemos ver a metade desta esfera que está por sobre nossas cabeças, chamaram de horizonte a linha que separa o hemisfério visível do invisível. O termo deriva do substantivo horos (“limite”, em grego) e do verbo horizein (“separar, limitar”). Até hoje, para o homem comum, horizonte é a linha que separa o céu da água ou da terra, mesmo que a Astronomia adote outra definição, muito mais técnica.
meteoro
Do grego meteoros, literalmente “o que está no ar, o que está por cima de nós”. O plural meteora era o termo genérico para tudo o que se observava no céu, como as nuvens, os ventos, o granizo, o arco-íris, os relâmpagos, etc. Ainda com esse antigo significado de “fenômenos da atmosfera ou do clima”, entrou nas línguas modernas em vocábulos como meteorologista e meteorologia. Hoje é empregado para designar o rastro luminoso de objetos do espaço que ficam incandescentes ao passar pela atmosfera terrestre, chamados popularmente de “estrelas cadentes”. Aqueles que não se vaporizam totalmente e chegam a cair na superfície terrestre são denominados de meteoritos.
planeta
Etimologicamente, os planetas são viajantes do espaço, pois o termo deriva do grego planetes, que significa “que vagueia, que viaja”. É o adjetivo que aparece na expressão aster planetes (“astros errantes”), usada para designar os astros que se movem, por oposição aos que são “fixos”. Para os astrônomos da Antiguidade, que observavam o céu a olho nu, as estrelas mantinham a mesma distância entre si, enquanto os planetas davam a impressão de movimentar-se erraticamente no espaço. A astronomia clássica reconhecia sete planetas: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, além do Sol e da Lua, incluídos na lista porque não eram estáticos. Os demais só foram descobertos como o desenvolvimento dos instrumentos ópticos.
galáxia
Vocábulo derivado do grego gala — “leite”. Pela aparência leitosa que tem a nossa galáxia, os gregos a chamavam de galaxias kuklos, ou “círculo branco como leite” — da mesma forma como os romanos a concebiam como uma imensa estrada luminosa, a que chamaram de Via Láctea (da mesma origem que os termos leite e laticínio). Essa ligação com o leite era retomada pela mitologia, que atribuía a formação da Via Láctea ao leite que jorrou do seio de Hera (ou Juno), quando a rainha do Olimpo amamentou o pequeno Hércules; embora recém-nascido, o futuro herói sugou o leite com tanta força que parte dele subiu aos céus, formando as estrelas e as constelações. Por muitos séculos galáxia e Via Láctea foram palavras sinônimas; contudo, à medida que aumentou nosso conhecimento do Universo, o primeiro termo passou a ter significado genérico.
cosmos
Dizem que foi Pitágoras o primeiro a usar o termo kosmos (“ordem”) para se referir ao mundo como um todo organizado e harmonioso. Embora popularmente o termo esteja mais associado ao espaço, ainda é usado como um sinônimo de mundo: o mundo do infinitamente pequeno é um microcosmo; cosmopolita é um cidadão do mundo. O grego tinha também um verbo derivado, kosmein, que significa “organizar, arrumar, enfeitar com adornos”, que terminou produzindo o nosso cosmético. No séc. XX, a palavra interveio numa interessante diferença entre os dois blocos antagônicos que disputavam a corrida espacial, pois falávamos em astronautas americanos, mas cosmonautas soviéticos.
cometa
Vem da segunda parte da expressão grega aster kometes, literalmente “estrela de cabelos longos”, termo derivado de komes (“cabelo”; não há relação com koma, que deu origem ao coma da linguagem médica). Este nome foi atribuído por causa da nuvem luminosa que envolve o núcleo do cometa, que dá a impressão de uma longa cabeleira flutuando ao sabor do vento. Os antigos astrônomos falavam dos cometas como se eles tivessem uma estrutura análoga à de um animal, denominando suas partes de cabeça, cauda e coma (ou cabeleira), terminologia até hoje utilizada em Astronomia.
satélite
Antes de Galileu, os corpos celestes que se moviam em órbita aos planetas eram chamados genericamente de luas. Quando o astrônomo descobriu, em 1611, as quatro luas principais de Júpiter, o grande cientista Kepler, seu amigo, sugeriu que esses astros menores fossem chamados de satélites dos maiores, termo retirado de satelles — em Latim, “guarda pessoal, escolta, acompanhante”. No séc. XX, o termo foi ampliado para designar qualquer um dos artefatos não-tripulados que colocamos em órbita.