Olá, Doutor Moreno: de início gostaria de parabenizá-lo pela belíssima página. Dúvidas no uso da nossa língua serão constantemente freqüentes, se considerarmos a dimensão dela, a nossa curiosidade, o resgate a expressões e o acréscimo de termos (que vemos constantemente acontecer). A dúvida que te trago nasceu de uma conversa com um colega agrônomo que crê ser herbicidar um verbo, que pode ser conjugado normalmente, descrevendo a ação de “matar ervas”. Disse-lhe que nem todo substantivo pode se tornar verbo e que correria menos risco de formar neologismo se falasse apenas “aplicar herbicida”. No entanto, precisamos de um voto credenciado e decisivo à questão. Um abraço.
Fábio Maia
Prezado Fábio: obrigado pelo cumprimento; posso dar a vocês um voto credenciado, mas não decisivo, pois o saber humano é infinito em seu progresso. Como agrônomo, deves te sentir em casa com a idéia de que a língua é um organismo vivo e, como tal, tende para a economia de energia e de recursos. Se fizesse sentido criarmos um herbicidar (do ponto de vista morfológico, até que é um verbo viável), por que não teríamos homicidar, genocidar, infanticidar, pesticidar, parricidar, etc.? Comparando custo e benefício, verás que não vale o esforço (e o sistema lingüístico parece ter chegado à mesma conclusão). É significativo que o único verbo a surgir autonomamente foi suicidar-se, certamente por todas as implicações trágicas e excepcionais que cercam o ato. Embarcar veio de barco, mas hoje podes embarcar em trem, avião, carruagem, ônibus espacial e até numa fria. No tempo da Semana de Arte Moderna, os poetas (que não passavam, em sua maioria, de piadistas) usavam alegremente avionar, trenzar, etc. — mas nada disso vingou. Continuem a “aplicar o herbicida”, que é melhor. Aliás, nota que há uma disputa de significado aí nesse hipotético herbicidar: ele significaria “aplicar herbicida”, ou “matar ervas”? São coisas bem diferentes, como tu, mais do que ninguém, deves saber. Abraço. Prof. Moreno
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