Caro Professor Moreno: felicidades em sua lua-de-mel. Aproveite e explique ao pessoal a origem dessa expressão.
José Alves — São Leopoldo (RS)
Meu caro José: depois de um ano de casado, só agora tive a oportunidade de viajar em lua-de-mel. Como acabo de voltar às minhas atividades, posso agradecer a tua gentileza e tentar explicar essa doce expressão. Já vou avisando, no entanto, que tudo não passa de conjecturas, tanto com relação à sua origem, quanto a respeito de seu próprio significado. Enquanto uns dizem que ela se relaciona aos costumes matrimoniais dos primitivos povos europeus, há autores que enxergam nela um toque de fatalismo diante dos estragos que o tempo faz às pessoas e aos relacionamentos.
Para os primeiros, o costume nasceu entre celtas, teutões, vikings e outros povos cabeludos; o nome lua-de-mel viria de uma antiga tradição que fazia os recém-casados passarem um mês bebendo hidromel (uma espécie de vinho feito de mel). O próprio Átila, o rei dos Hunos, bebeu tanto na festa de seu último casamento que morreu sem ver o sol nascer no dia seguinte. Alguns antropólogos que estudaram esses povos vêem a celebração desse período especial apenas como um resquício do antigo casamento por rapto: depois de arrebatar a noiva (com ou sem o seu consentimento), o noivo a mantinha escondida o tempo suficiente para que ela estivesse grávida ou para que sua família desistisse de procurar por ela, quando então voltavam para formalizar o casamento.
A outra corrente desvincula a lua-de-mel de qualquer cultura ou civilização específica, preferindo ver nela um símbolo da deterioração implacável do casamento. Nesta versão melancólica, o marido e a mulher, depois de um período de grande ternura e de carinho, veriam essa doçura dos primeiros dias ser varrida inapelavelmente pelo quotidiano e pela rotina. Voltaire, no seu famoso Zadig, diz que “Zadig constatou que o primeiro mês do casamento, como está escrito no livro do Zend, é a lua-de-mel, e que o segundo é a lua de absinto” (é bom lembrar que o absinto é uma bebida feita à base de artemísia, aquela planta amarga que conhecemos com o nome de losna). Essa oposição entre o doce e o amargo é muito explorada pelo jogo de expressões “lua-de-mel, lua-de-fel“, tão usado na literatura.
A meu ver, foi Balzac, grande conhecedor do homem e da mulher, quem melhor estudou essas mudanças de fase na lua matrimonial. No seu brilhante Fisiologia do Casamento, descreve a inevitável decadência que ocorre na relação do casal quando a luz dessa lua ilumina dois seres que, na verdade, nunca se amaram — e aí concorda com Voltaire. No entanto, diz ele, “os casais destinados a se amarem por toda a vida não concebem um período de lua-de-mel; para eles, ela não existe, ou melhor, ela vai sempre existir: eles são como aqueles imortais que não compreendiam o que é a morte”. Mas isso, nós sabemos, é para poucos. Abraço. Prof. Moreno
Depois do Acordo: vêem > veem