Meu filho estuda numa escola particular da Zona Norte de São Paulo. Ao revisar com ele o estudo dos encontros vocálicos, encontrei uma definição de ditongo diferente daquela que eu tinha aprendido. Sabemos que ditongo é o encontro de duas vogais na mesma sílaba, mas nos exercícios aparecia pastel como exemplo de ditongo oral decrescente. Ora, quando eu lhe disse que pastel não tinha ditongo porque o L não é uma vogal, ele, para minha surpresa, me informou que sua professora havia ensinado que aqui o L tem o som de um U, ou seja, /pastéu/. Que eu saiba, isso não vale para o Brasil todo, a começar pelo Rio Grande do Sul. A professora está agindo corretamente?
Marina G. — São Paulo
Prezada Marina: confia na professora do teu filho, porque é ela que está com a razão. Para ela, como para todos os lingüistas modernos, ditongo é o encontro de dois fonemas vocálicos na mesma sílaba — nota que eu disse fonemas, não letras. Professores que ainda estudam a estrutura da sílaba a partir das letras realmente não aceitam a sílaba final de papel ou de jornal como ditongos — coisa que os nossos poetas já faziam há muitos anos, rimando mel com céu (e que permite ao Ed Motta cantar, alegremente, que “Manuel foi pro céu“…). Há gramáticos tradicionais, como o conhecido Napoleão Mendes de Almeida, que fazem ainda pior, confundindo letra com fonema o tempo todo. Como há duas correntes ainda vivas, não critico as professoras do Ensino Fundamental que baseiam o ensino da sílaba exclusivamente nas letras, mas prefiro as que, já mais bem informadas, trabalham com fonemas — o que, acredita-me, representa uma escolha muito mais trabalhosa para o professor, mas muito mais profícua para o aluno. Abraço. Prof. Moreno
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