Professor, o que vem a ser uma “pergunta retórica”? Seria uma pergunta boba, tão óbvia que nem deveria ter sido feita?
Sarah S. – Ribeirão Preto (SP)
Não, prezada Sarah, as perguntas retóricas raramente são bobas — bem pelo contrário, aliás. Numa pergunta “verdadeira”, pedimos que nosso interlocutor forneça uma informação que nós não possuímos; em outras palavras, aquele que não sabe vai consultar aquele que sabe. Quando envias uma pergunta ao Sua Língua, por exemplo, tu o fazes na expectativa de que eu possa fornecer a resposta que estás buscando. “O que é uma pergunta retórica?” é uma pergunta “verdadeira”, assim como “A que horas começa o filme?”; “Quem vai no carro conosco?”; “Onde puseram a conta da luz?”.
Uma pergunta retórica, no entanto, é um tipo esquisito de pergunta, já que, ao fazê-la, já sabemos a resposta e sabemos que nosso interlocutor também sabe. Se dizemos “Até quando, meu Deus, vamos ter de agüentar essa corrupção?”, estamos, na verdade, declarando a nossa indignação com um determinado estado de coisas, e ficaríamos muito surpresos se alguém resolvesse nos dar uma resposta (quem costuma fazer isso são as crianças pequenas, que não dominam ainda as maldades e as sutilezas do discurso). Como podes ver, em vez de interrogar, usamos a pergunta retórica para afirmar ou insinuar. Quem pergunta algo como “Você pensa que eu sou bobo?”, ou “Quantas vezes eu tenho de dizer que a porta deve ficar fechada à noite?”, ou “Você não tem vergonha?”, ou “Quem o Evo Morales pensa que é para saquear o patrimônio da Petrobrás?” — quem faz essas perguntas, repito, não tem intenção alguma de receber informações. Abraço. Prof. Moreno
Depois do Acordo: agüentar > aguentar