Olá, Prof. Moreno! No texto sobre Colocação do Pronome o senhor utilizou a palavra Pindorama como substantivo feminino. Procurei no Houaiss e em outros dicionários, também no VOLP, e todos registram o vocábulo como masculino. O interessante é que esse vocábulo também foi usado, certa vez, no feminino pela professora Dad Squarisi, na coluna que ela escreve semanalmente no jornal Diário do Sul. Então só posso concluir que deve haver um motivo ou uma situação especial em que a palavra é usada no feminino. O senhor poderia me ajudar?
Marcelo M. – São Paulo (SP)
Meu caro Marcelo: confesso que nunca tinha visto Pindorama como masculino. Foi tua mensagem que me alertou para o fato de que o Houaiss e o Aurélio registram esse gênero para o vocábulo – o que, para mim, é absoluta novidade. Para mim, sempre foi “Pindorama, a terra das palmeiras”; eles, ao que parece, pressupõem “país” (aliás, Houaiss registra, espertamente, “país ou região das palmeiras”, mas cita, no próprio verbete, o dicionário de Teodoro Sampaio, que fala em “região ou país das palmeiras”).
O que está em jogo aqui, Marcelo, é saber qual o vocábulo que está elíptico: é “terra”, “região”, “país”? Dependendo do que for, assim será feita a concordância. Existe um Clube Pindorama? Vamos falar “no [clube] Pindorama”. Existe uma cidade Pindorama? Vamos falar “em Pindorama”, pois as cidades não são antecedidas de artigo definido. Existe uma loja de brinquedos Pindorama? Vamos falar “na [loja] Pindorama”. E assim por diante. Como nunca imaginei Pindorama como um país, mas como “terra” (como, aliás, é o seu aposto: “a terra das palmeiras”) sempre usei o feminino. Eu e a maioria, aliás; se pesquisares no Google “NO pindorama”, “NA Pindorama”, “DO Pindorama”, “DA Pindorama”, “NESTE Pindorama”, “NESTA Pindorama”, etc., vais perceber que, embora sejam usados ambos os gêneros, a preferência nacional é marcadamente pelo feminino.
Como respeito os dois lexicógrafos cuja obra mencionaste (nota que deixei o VOLP de fora, deliberadamente, porque este não vale um níquel), vou ter de aceitar, também, que se use o masculino, se admitirmos que está subentendido o vocábulo “país” (no Google, há 5.000 ocorrências de “Pindorama, terra das palmeiras” contra 800 de “país das palmeiras”, mas tudo bem; 800 já é um número razoável).
O pior é que, mesmo admitindo que eles enxerguem um “país” onde a maioria enxerga uma “terra”, mesmo assim, atribuir-lhe o gênero masculino continua sendo uma excentricidade morfológica . Já escrevi sobre o gênero dos países: são femininos todos aqueles cujo nome termina em -A, e masculinos todos os outros, mais os que terminam em -A tônico (Canadá, Panamá). Só fogem a essa regra o Quênia e o Cambodja; ao que parece, Houaiss e Aurélio querem incluir, neste número, a nossa querida Pindorama.
Abraço. Prof. Moreno