As palavras são o que valem hoje, não o que valiam há dois mil anos” (e ainda mais em outra língua!)”, escreve o Doutor, em sua resposta sobre outra alternativa. Sou obrigado a concordar com (e saborear) a afirmativa, mas confesso que me intriga a argumentação entre parênteses. Cartesianamente: quando tomamos uma palavra ou expressão de outra língua, ela não deveria manter, além do significado, a função? Em que circunstâncias (ou depois de quanto tempo) seria aceitável o processo tão comum (e que deve inclusive ter um nome) pelo qual uma parte do significado da expressão estrangeira fica reforçado por uma palavra nativa? É claro que eu penso em primeiro lugar em piadas como “Está na hora do happy-hour” ou “Vamos fazer uma pausa para o coffee-break“. Mas vale (ou não?) também para “O deputado declarou em off” (nesse caso, “off the record“), “Ouve-se uma narração em off” (aqui, “off-screen“). Ou ainda: “As chuvas foram conseqüência do El Niño”, “Aquele é o pior disco do The Who”. É frescura minha ou seria desejável que, ao se substituir a expressão estrangeira por um equivalente nativo, não houvesse pleonasmo vicioso? Um abraço e desculpe a extensão.” Giba Assis Brasil
E aí, Giba? Sempre comparecendo ao nosso terreirinho? Olha, já que perguntas, acho que é um pouco de frescura tua. Ou melhor: de alguém que domina línguas estrangeiras, além da sua. Os ouvidos educados se ressentem um pouco com isso, mas o mesmo não se dá com a maioria da população, que não é obrigada a conhecer as várias línguas ocidentais. Se alguém enxergar pleonasmo nesses casos (que realmente existe, é verdade), não pode classificá-lo de vicioso; esse é daquele tipo brabo: hemorragia de sangue, subir para cima, ataque cardíaco bem no coração (geralmente os mais fulminantes!).
Eu, por exemplo, tremo ao ver “os The Beatles”, mas já não achei tão medonho o exemplo do “The Who”. Queres um campo em que deixamos passar uma penca desses contrabandos? Nas siglas e abreviaturas provenientes de outras línguas. Que tal um “vírus HIV” (o V já disse tudo); “pessoa VIP” (VIP é formada pelas primeiras letras de V(ery) I(mportant) P(erson); um “computador PC“, uma “corrente AC“? Assim como nas relações entre as pessoas, Giba, na linguagem humana a gente tem de fazer vista grossa para algumas coisinhas, sob pena de passar a vida brigando. Abraço. Moreno
Depois do Acordo: conseqüência> consequência