Caro Professor Cláudio: primeiramente meus parabéns, congratulations, voilá, aleluia! O seu site é magnífico! Por favor, gostaria de ouvir o que o senhor tem a dizer sobre a expressão via de regra. Um colega meu, atualmente em trabalhos finais de doutorado, escreveu: “Via de regra, o executivo profissional trabalha com visão de mais longo prazo…” A expressão é estranha para mim. REGRA TEM VIA? Agradeço antecipadamente sua valiosa cooperação. Você merece o prêmio de iBEST One, two and three. Saudações.
Juraci P.
Minha cara Juraci, muito obrigado pelos elogios e pelo entusiamo demonstrado para com o sítio Sua Língua; a gente faz o que pode e o que sabe. Quanto à tua via de regra, é parte da expressão “por via de regra”, já dicionarizada pelo Aurélio, que ameaça substituir o nosso mais conhecido em regra (“em geral”, “normalmente”). Eu não gosto da expressão; não vejo nela nenhum ganho real sobre as que já existem no idioma. Além disso, para muitos leitores ela traz uma inevitável evocação pejorativa. Como és adulta, posso referir um exemplo pouco elegante: não lembro se foi o Nélson Rodrigues ou o Millôr (sei apenas que foi uma dessas cabeças privilegiadas), mas um deles conta o combate furioso e sistemático contra a expressão “via de regra” feito por um importante editor do jornalismo carioca dos bons tempos. Quando alguém ousava empregar esta expressão no texto de alguma matéria, ele ficava apoplético e saía gritando, no meio da redação: “Eu já disse mil vezes que a via de regra é a vagina !!!” (não preciso dizer que não era bem esse o termo com que o desbocado jornalista finalizava sua frase). Por tudo isso, faz com “via de regra” o mesmo que eu: não a uses. Segue a tua intuição inicial, que te fez achar esquisita a expressão, e manda-a às urtigas. Abraço. Prof. Moreno
P.S.: Recebi, pela volta do correio, uma colaboração oportuníssima de meu amigo Sérgio Mansur, de Belo Horizonte, leitor fiel e crítico incansável, que vem mais uma vez enriquecer o material desta página com suas observações onde jamais faltará uma ponta de ironia. Desta vez, ele nos faz o favor de identificar o jornalista que vetava o via de regra e acrescenta, com a sutileza necessária, outros detalhes picantes:
“Ora, Moreno, a história do iracundo jornalista corre por aí há anos. Era o Carlos Lacerda. Lenda ou não, contam que ele chamava o foca, logo no primeiro dia de trabalho na Tribuna da Imprensa, e dizia: “Meu filho, neste jornal, é proibido escrever duas expressões: “via de regra” e “por outro lado“. O foca perguntava por quê, e o Lacerda dizia com todas as letras: “via de regra é… [caixinha] e por outro lado é no… [símbolo químico do cobre]”.